Seguramente, este é um dos livros que provocou forte impacto em minha vida.
Menina, ainda, ganhei um exemplar num concurso
qualquer promovido pela escola. Durante anos, tive ZORBA O GREGO como livro de
cabeceira. Lia e relia. Era criança demais para digerir tamanha humanidade e
sede de viver.
Hoje, mulher adulta, consigo entender o sentido do
questionamento de uma vida que deixa romper as horas sem saborear os minutos. Falo
de uma vida que poderia romper calcada num inconsistente sentimento de culpa. Então, se há um sentido neste livro, trata-se do sentido de humanização e de que maneira insultamos e desprezamos o desejo que somos.
Hoje, nostálgica, queria me entupir de pitangas até
passar mal, como Zorba às vezes fazia. Se tenho um desejo, tenho que saciá-lo
até o limite...
Quantos desejos... comeria um pé de pitanga inteiro.
Quantos desejos... comeria um pé de pitanga inteiro.
Não, não precisava ser na Grécia. Poderia ser aqui
perto mesmo, em Monte Verde, onde por anos a fio, nas diferentes estações,
andava o dia todo, cada trilha, cada caminho descoberto e redescoberto que
conhecia como a palma de minha mão. Pernas fortes, musculosas, subir as montanhas com breves paradas para matar a sede, outras para fotografar, ou
ainda andar de fasto olhando pra traz, braços abertos, sorriso no rosto, o ar
gelando meus pulmões e me obrigando a sentir e fazer a respiração mais
profunda... por que viva. Respirava fundo, gargalhava por algo bobo, por que
fazia parte chegar ao topo do chapéu do bispo, da pedra partida, pico do selado, do platô... ver a Serra da Mantiqueira, andar à noite sem farolete sob a luz do luar e das estrelas... Plena sensação
de liberdade... Era um pouco como o dançar de Zorba, viver a loucura de viver aqueles momentos, simplesmente...
Em determinada parte do livro, Zorba diz a
seu chefe: “Há algo que está faltando em você, chefe. Um toque de loucura! A
menos que você tenha um pouco de loucura, você não viverá.”
Ler esta parte sempre me deu uma sensação
de liberdade indescritível e, por alguns dias, me faziam pensar... "quão tenho eu
sido feliz, qual a medida da loucura que eu me permito no dia a dia e, de que
forma um toque de loucura não me faria livre."
Zorba é totalmente livre, não tem medo do
inferno nem ambição pelo céu, vive cada momento, curte as coisas pequenas,
saboreia a bebida e a companhia de mulheres, sem permitir que sentimentos como
o ciúme ou o apego excessivo o torne escravo. Ele trabalha com
afinco e dedicação, mas também dedica algum momento à música e agarra-se ao seu
santury e toca-o com a leveza de tocar uma mulher. E dança, dança e dança nos momentos em que se faça natural, em que a alma peça música e movimento...
Polemista de primeira grandeza, Kazantzakis fez confrontar as contradições de um dogmatismo cego e da simplicidade existencialista.
Os parágrafos finais do livro, espelham uma oração a qualquer um que aceita a vida como dádiva, não como expiação - o que seria um pecado mortal.
Zorba é um cântico à liberdade do ser humano que vê na existência terrena seu único esteio antes da completa aniquilação. A cada página, um rito de despedida.
Ao
leitor é impossível não olhar pra dentro de si, como aconteceu comigo e
questionar... até que ponto tenho sido Zorba... ou, até que ponto tenho sido um
“roedor de papéis”.
A lição que fica: Temos e havemos de aprender a passar pelo mundo.
A lição que fica: Temos e havemos de aprender a passar pelo mundo.
transposto para o cinema com grande sucesso e o emblemático
Antonin Quin encarnado Zorba(!)
Antonin Quin encarnado Zorba(!)
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