Saber
Viver
(leitura do ator Juca de Oliveira)
(leitura do ator Juca de Oliveira)
ou
longa demais pra nós,
Mas
sei que nada do que vivemos
tem
sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas
vezes basta ser:
Colo
que acolhe,
Braço
que envolve,
Palavra
que conforta,
Silêncio
que respeita,
Alegria
que contagia,
Lágrima
que corre,
Olhar
que acaricia,
Desejo
que sacia,
Amor
que promove.
E isso
não é coisa de outro mundo,
é o
que dá sentido à vida.
É o
que faz com que ela
não
seja nem curta,
nem
longa demais,
Mas
que seja intensa,
verdadeira,
pura...
Enquanto
durar.
Cora
Coralina
CORA CORALINA, do coração do Brasil para o coração dos brasileiros
BIOGRAFIA
“Não é o poeta que cria a poesia.
E sim, a poesia que condiciona o poeta.”
Em 1889, nasceu, na mítica casa velha da ponte, na cidade de Goiás, antiga Villa Boa de Goyas, a poetisa Cora Coralina. Trazendo nas veias o sangue de autores como Olavo Bilac e Luis Ramos de Oliveira Couto, Cora Coralina alcançou o respeito e a admiração de autores como Monteiro Lobato e Carlos Drummond de Andrade, que após ler seus poemas, publicou um elogioso artigo no Jornal do Brasil, em 1980. A partir daí, a autora passou a conquistar o reconhecimento de todo o Brasil.
A historia de Cora Coralina está intimamente ligada a historia do estado de São Paulo, tendo ela se envolvido ativamente a Revolução Constitucionalista de 1932 e morado em varias cidades do interior de São Paulo. Em 1922, a autora foi convidada a participar da Semana da Arte Moderna, realizada no Theatro Municipal de São Paulo, que viria a revolucionar a produção artística do Brasil, mas, infelizmente, seu marido a impediu.
Cora Coralina não legou apenas belos poemas, mas legou uma historia de vida exemplar e muito adiante de seu tempo.
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretãs, que desde jovem adotou o pseudônimo de Cora Coralina, graças ao talento e sensibilidade incomuns, superou as limitações impostas pela vida. Cedo aprendeu a magia das palavras, mesmo tendo como instrução apenas três anos de escola. Aos 14 anos, publicou o primeiro conto. Em um tempo em que as mulheres eram criadas para o casamento, preferia as reuniões do Gabinete Literário. Ao deixar Goiás ainda jovem, para se casar, Cora levou impressas na memória as lembranças da infância e da paisagem de sua terra. Mesmo depois de viúva, vivendo em São Paulo e obrigada a trabalhar duro para manter a família, conservou bem guardada sua chama poética e a goianidade de sua alma. A volta a Goiás, em 1956, depois de 45 anos de ausência, produziu o desabrochar da autora. Fazia doces para ganhar a vida e versos para alimentar o espírito. Aos 76 anos, publicou seu primeiro livro. O olhar arguto e o lirismo que nela transbordava extraíram poesia dos modos, costumes, historias, tradições e sentimentos da sua gente simples. Seus versos, justamente pela simplicidade e autenticidade, traduzem as aspirações e experiências do povo brasileiro.
(Fonte: Cora Coralina, coração do Brasil – Museu da Língua Portuguesa)
Casa de Cora Coralina - Goiás Velho (hoje um museu)
(Rio Vermelho tema de tantos escritos)
(Ponte sobre o Rio Vermelho - arquivo pessoal)
Com um estilo pessoal, ela foi poetisa e uma grande contadora de histórias das coisas de sua terra. A espontaneidade, o cotidiano e as imagens que retratam o povo do seu Estado, costumes e sentimentos, são temas constantes de suas publicações. Assim, sua obra é considerada por vários autores um registro histórico-social do século 20, especialmente da região do serrado do Centro-Oeste brasileiro, onde nasceu e morreu.
Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins de Guimarães Peixoto Brêtas, nasceu em 20 de agosto de 1889, no estado de Goiás (Goiás Velho). Filha de Jacinta Luíza do Couto Brandão Peixoto e do Desembargador Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, cursou apenas até a terceira série do primário e iniciou sua carreira literária aos 14 anos, publicando seu primeiro conto "Tragédia na Roça", em 1910, no "Anuário Histórico Geográfico e Descritivo do Estado de Goiás".
Em 1903 já escrevia poemas sobre seu cotidiano, tendo criado, juntamente com duas amigas, em 1908, o jornal de poemas femininos "A Rosa". Era chamada Aninha da Ponte da Lapa e trabalhou como doceira, na cozinha da Casa da Ponte, produzindo seus versos ao pé do fogão. Considerava os doces cristalizados de caju, abóbora, figo e laranja, que encantavam os vizinhos e amigos, obras melhores do que os poemas escritos em folhas de caderno.
(Cozinha de Cora Coralina sendo restaurada - arquivo pessoal)
Virou Cora Coralina pois o pseudônimo era uma exigência para disfarçar a escritora, já que naquela época moça prendada não perdia tempo com manuscritos. O amor às letras foi o sustentáculo dessa mulher. Mesmo sofrendo preconceitos e dissabores ao longo da vida - que a atrasaram, mas não a impediram - ela decolou no mundo das palavras.
Em 1911 conheceu o advogado Cantídio Tolentino Brêtas, com quem fugiu para morar em Jaboticabal, São Paulo, onde nasceram seus seis filhos. O fato de Cantídio ser homem separado, com filhos do casamento e inclusive uma filha, fruto de romance com uma índia, não desanimou Cora, que inclusive ajudou a criar a filha. Em 1922, foi convidada por Monteiro Lobato para integrar-se à Semana de Arte Moderna,mas seu marido a proibiu de participar de tal evento.
Saraus literários ou não, Cantídio não gostava de ver a capacidade da mulher. A Cora ousada, que deixou para trás preconceitos sociais, pouco ligava. Publicava artigos nos jornais de Jaboticabal, construía poesias e costurava contos. Flagrada na cidade pela Revolução Constitucionalista de 1932, alistou-se como enfermeira - a filha mais nova, Vicência, encontrou a ficha de inscrição após a sua morte, perdida entre centenas de textos inéditos. Costurava bonés para soldados, uniformes e aventais para enfermeiras.
Com a morte do marido, Cora passou a se sustentar com a venda de livros, pela José Olympio Editora, a mesma editora que publicaria mais tarde o seu primeiro livro. Para ela, o valor de sua obra estava justamente na quietude vivida por muitos anos, nas dores e sentimentos de uma vida curtida pelo tempo. Voltou a morar em Goiás 45 anos depois, já produzindo sua obra definitiva. Seu reencontro com a cidade e as histórias de sua formação alavancaram seu espírito criativo. Tradições e festas religiosas, comidas típicas da região, famílias e seus "causos", tudo motivava a escritora a fazer uma ponte entre o passado e o presente da cidade, numa tentativa de registrar sua história e entender as mudanças. Com a mesma rica simplicidade de seus personagens, Cora fazia doces cristalizados para vender.
Aos 70 anos decidiu aprender datilografia para preparar suas poesias e enviá-las aos editores e, somente aos 76, conseguiu realizar o sonho de publicar seu primeiro livro, "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Sua apresentação ao mundo literário nacional aconteceu quase aos 90 anos, pelas mãos de Carlos Drummond de Andrade que durante muitos anos homenageou Cora em diversas cartas e publicações.
Entre as publicações de Cora Coralina estão: "Meu Livro de Cordel", "Vintém de Cobre", "Estórias da Casa Velha da Ponte", "O Tesouro da Casa Velha", "Os Meninos Verdes" e "A Moeda de Ouro que um Pato Engoliu", pela qual recebeu títulos e prêmios. Em 1983, lançou "Vintém de Cobre-Meias Confissões de Aninha", recebendo em seguida o Troféu Juca Pato da União Brasileira de Escritores, que a elegeu a Intelectual do Ano.
Ela era simples mas foi doutora "feita pela vida, pelo estudo incessante de tudo quanto aconteceu em seu derredor", palavras da reitora de Universidade Federal de Goiás. E Cora Coralina recebeu realmente o título de Doutora Honoris Causa daquela Universidade. Em 1984, foi reconhecida Símbolo Brasileiro do Ano Internacional da Mulher Trabalhadora pela FAO (Organização das Nações Unidas para agricultura e alimentação). Também entrou para a Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás.
Cora Coralina faleceu em Goiânia a 10 de abril de 1985. A casa em que morava, construída por volta de 1770, foi transformada em museu depois da sua morte. Em 2001, o Rio Vermelho, que corta a cidade histórica, transbordou depois de uma forte chuva, destruindo toda a arquitetura histórica da cidade. Com a inundação atingindo a casa de Cora, o acervo do museu composto de cadernos com poemas e contos, ainda não publicados, cartas, móveis e objetos pessoais da escritora, foram seriamente danificados. Depois de pouco mais de um ano, novos investimentos garantiram a recuperação de pontos turísticos, incluindo a casa de Cora Coralina.
Um pouco mais de sua história
O Quintal de Cora
Aninha e suas pedras
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
Das Pedras
Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.
Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.
Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
dos meus versos.
"Oração do Milho"
Senhor, nada valho.
Sou a planta humilde
dos quintais pequenos e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por
acaso,
Nasce e cresce na
terra descuidada.
Ponho folhas e haste,
e se me ajudardes, Senhor, mesmo planta
De acaso, solitária,
dou espigas e devolvo
em muitos grãos
o grão perdido
inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária
da lavoura.
Não me pertence a
hierarquia tradicional do trigo
E de mim não se faz o
pão alvo universal.
O justo não me
consagrou Pão de Vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento
forte e substancial dos que
Trabalham a terra,
onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura
e de ascendência pobre,
Alimento de rústicos e
animais do jugo.
Quando os deuses da
Hélade corriam pelos bosques,
Coroados de rosas e de
espigas,
Quando os hebreus iam
em longas caravanas
Buscar na terra do
Egito o trigo dos faraós,
Quando Rute respigava
cantando nas searas do Booz
E Jesus abençoava os
trigais maduros,
Eu era apenas o bró
nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e
constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e
modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha
econômica do proletário.
Sou a polenta do
imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Alimento de porcos e
do triste mu de carga.
O que me planta não
levanta comércio, nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura
generosa e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido
donde rumina o gado.
Sou o canto festivo
dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre
das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal
agradecida a Vós, Senhor,
Que me fizestes
necessário e humilde.
Sou o milho.
INTÉRPRETE: Lauro
Moreira.
MONTAGEM: Leandro
Caetano
Eu Creio
Creio nos valores humanos
e sou a mulher da terra.
...
Creio na força do trabalho
como elos e trança do progresso.
Acredito numa energia imanente
que virá um dia ligar a família humana
numa corrente de fraternidade universal.
Creio na salvação dos abandonados
e na regeneração dos encarcerados,
pela exaltação e dignidade do trabalho.
...
Acredito nos jovens
à procura de caminhos novos
abrindo espaços largos na vida.
Creio na superação das incertezas
deste fim de século.
Cora Coralina (1/2) - De Lá Pra Cá - 21/09/2009
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Você realmente é uma admiradora das obras de Cora Coralina, e parabéns pelas novas fotos postadas, de arquivo pessoal.
ResponderExcluir(Romualdo)
Obrigada Ro pela contribuição que sempre oferece para o Blog, neste caso, sobre Cora Coralina.
ExcluirCora Coralina, mulher que encanta, que nos faz sentir que a vida foi feita para os fortes, mais que todos podem ser feliz basta tirar as pedras e fazê-las transformar em flores!!
ResponderExcluirGrata por sua visita e seus comentários Gilda!
ResponderExcluir