TRAVESSEIRO SUSPENSO POR FIOS DE NYLON

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Cecília Meireles



Hoje me dei conta de que as 
pessoas vivem a esperar por algo
E quando surge uma oportunidade
Se dizem confusas e despreparadas
Sentem que não merecem
Que o tempo certo ainda não chegou
E a vida passa
E os momentos se acumulam 
como papéis sobre uma mesa
Estamos nos preparando para qualquer coisa
Mas ainda não aprendemos a viver
A arriscar por aquilo que queremos
A sentir aquilo que sonhamos
E assim adiamos nossas 
vidas por tempo indeterminado
Até que a vida se encarregue 
de decidir por nós mesmos
E percebemos o quanto perdemos
E o tanto que poderíamos ter evitado
Como somos tolos em nossos 
pensamentos limitados
Em nossas emoções contidas
Em nossas ações determinadas
O ser humano se prende em si mesmo
Por medo e desconfiança
Vive como coisa
Num mundo de coisas
O tempo esperado é o agora
Sua consciência lhe direciona
Seus sentidos lhe alertam
E suas emoções não 
mais são desprezadas
Antes que tudo acabe
É preciso fazer iniciar
Mesmo com dor e sofrimento
Antes arriscar do que apenas sonhar

Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada umas das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.


Biografia
Órfã de pai e de mãe, Cecília foi criada por sua avó portuguesa, D. Jacinta Garcia Benevides. Aos nove anos, ela começou a escrever poesia. Frequentou a Escola Normal no Rio de Janeiro, entre os anos de 1913 e 1916. Como professora, estudou línguas, literatura, música, folclore e teoria educacional.
Tendo feito aos 9 anos sua primeira poesia, estreou em 1919 com o livro de poemas Espectros, escrito aos 16 e recebido com louvor por João Ribeiro.

Publicou a seguir:


Em 1919, aos dezoito anos de idade, Cecília Meireles publicou seu primeiro livro de poesias, Espectro, um conjunto de sonetos simbolistas. Embora vivesse sob a influência do Modernismo, apresentava ainda, em sua obra, heranças do Simbolismo e técnicas do Classicismo, Gongorismo, Romantismo, Parnasianismo, Realismo e Surrealismo, razão pela qual a sua poesia é considerada atemporal.



No ano de 1922, ela se casou com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Seu marido, que sofria de depressão aguda, suicidou-se em 1935. Voltou a se casar, no ano de 1940, quando se uniu ao professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo, falecido em 1972. Dentre essas três, a mais conhecida é Maria Fernanda que se tornou atriz de sucesso.


Teve ainda importante atuação como jornalista, com publicações diárias sobre problemas na educação, área à qual se manteve ligada, tendo fundado, em 1934, a primeira biblioteca infantil do Brasil. Observa-se ainda seu amplo reconhecimento na poesia infantil com textos como Leilão de Jardim, O Cavalinho Branco, Colar de Carolina, O mosquito escreve, Sonhos da menina, O menino azul e A pombinha da mata, entre outros. Com eles traz para a poesia infantil a musicalidade característica de sua poesia, explorando versos regulares, a combinação de diferentes metros, o verso livre, a aliteração, a assonância e a rima. Os poemas infantis não ficam restritos à leitura infantil, permitindo diferentes níveis de leitura.

Em 1923, publicou Nunca Mais… e Poema dos Poemas, e, em 1925, Baladas Para El-Rei. Após longo período, em 1939, publicou Viagem, livro com o qual ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.Católica, escreveu textos em homenagem a santos, como Pequeno Oratório de Santa Clara, de 1955; O Romance de Santa Cecília e outros.

Nos Açores, de onde eram oriundos os seus pais, o nome de Cecília Meireles foi dado à escola básica da freguesia de Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada.

Cecília morreu de câncer no Rio de Janeiro, dois ddias depois de completar 63 anos.

Poesias de 
Cecília Meireles:



Leilão de Jardim

Quem me compra um jardim 
com flores?

borboletas de muitas cores,

lavadeiras e passarinhos,

ovos verdes e azuis

nos ninhos?

Quem me compra este caracol?

Quem me compra um raio de sol?

Um lagarto entre o muro e a hera,

uma estátua da Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é meu leilão!)

Sonhos da menina
A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?
Sonho
 
risonho:
O vento sozinho
no seu carrinho.
De que tamanho
 
seria o rebanho?
A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha . . .
Na lua há um ninho
de passarinho.
A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?

Meu Sonho
Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha essas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha esse coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
-- em que espelho ficou perdida
a minha face?

[poema parte do livro Viagem, declamado pela escritora e poetisa 
Cecília Meireles na Rádio MEC]

Traze-me
Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
 
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo - esperança!
-Vê que nem sequer sonho - amor!
 
Canção
Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo...
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo...



Timidez

Basta-me um pequeno gesto,feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
e um dia me acabarei.


Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E sei que um dia estarei mudo:
- mais nada





Nem tudo é fácil
É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
 
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
 
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
 
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
 
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
 
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
 
Se você errou, peça desculpas...
 
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
 
Se alguém errou com você, perdoa-o...
 
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?
 
Se você sente algo, diga...
 
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar
 
alguém que queira escutar?
 
Se alguém reclama de você, ouça...
 
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz?
 
Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível
 
Precisamos acreditar, ter fé e lutar
 
para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos,
 
realidade!!!
 
"O Amor...
É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os
fortes.
Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
e nunca desistir da busca de ser feliz,
é para poucos!!"
 
Despedida
Por mim, e por vós, e por mais aquilo
 
que está onde as outras coisas nunca estão,
 
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
 
quero solidão.
 

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
 
E como o conheces? - me perguntarão.
 
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
 
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
 

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
 
Viajo sozinha com o meu coração.
 
Não ando perdida, mas desencontrada.
 
Levo o meu rumo na minha mão.
 

A memória voou da minha fronte.
 
Voou meu amor, minha imaginação...
 
Talvez eu morra antes do horizonte.
 
Memória, amor e o resto onde estarão?
 

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
 
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
 
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
 
Quero solidão.






"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."

(Romanceiro da Inconfidência)



"De longe te hei de amar - da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância."



"Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."



Suspiro do vento, lágrima do mar, este tormento ainda pode acabar? A dúvida, no sofrimento de Cecília Meireles.



Noturno


Suspiro do vento,
lágrima do mar,
este tormento
ainda pode acabar? 



De dia e de noite,
meu sonho combate:
vem sombras, vão sombras,
não há quem o mate! 



Suspiro do vento,
lágrima do mar,
as armas que invento
são aromas no ar! 



Mandai-me soldados
de estirpe mais forte,
com todas as armas
que levam à morte! 



Suspiro do vento,
lágrima do mar,
meu pensamento
não sabe matar! 



Mandai-me esse arcanjo
de verde cavalo,
que desça a este campo
a desbaratá-lo! 



Suspiro do vento,
lágrima do mar,
que leve esse arcanjo meu longo tormento,
e também a mim, para o acompanhar!


Cecília Meireles

(1901-1964)



Amém

Hoje acabou-se-me a palavra, 
e nenhuma lágrima vem.
Ai, se a vida se me acabara
também.

A profusão do mundo, imensa,
tem tudo, tudo - e nada tem.
Onde repousar a cabeça?
No além?

Fala-se com os homens, com os santos,
consigo, com Deus...E ninguém
entende o que está contando
e a quem...

Mas terra e sol, luas e estrelas
giram de tal maneira bem
que a alma desanima de queixas.
Amém.

Cecília Meireles
(1901-1964)






Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas. 

Cecília Meireles
(1901-1964)






2 comentários:

  1. absolutamente, lindos!, apartir de hoje Cecília é minha poeta predileta....lind ela!

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    Respostas
    1. Tão profunda e ao mesmo tempo tão singela a poesia de Cecília!
      Grata por sua visita.

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