Ele foi um menino que nunca coube. E, por este motivo, o vazio sempre o teve. As prateleiras não lhe eram bastante, nem os livros que elas guardavam, mas algo naquele mofo lhe era inverno. Ele entendia as palavras, mas sabia que nexo faltava no conjunto delas, nunca deu ouvidos. Vivia silencioso.
E foi crescendo assim: cheio de nada e vazio de tudo. Um grande problema de humanidade, ou de falta de qualquer semelhança com isto.
As situações cotidianas, ou aquilo que chamava de realidade, pesavam em seu espírito como algo que não fosse desse mundo. Em determinado instante, ele absorvia aquele peso como uma maldição: fechava suas portas, janelas e vidraças, esperando que nada mais o pesasse. Já bastava, já lhe era duro permanecer assim, não queria mais. Sentia-se também injustiçado, ínfimo, maldizente de si próprio. Era um pequeno no mundo de grandes ainda tão maiores que o seu corpo físico. De maneira alguma conseguia entender o peso de sua vida.
Há alma na calma. E peso em todo o resto. Menino-já-grande, se apropriou de certa musculatura com os halteres que seu espírito o obrigava a carregar. E, de vislumbramento em vislumbramento, pode apreender a obtenção de uma certa calma no ato de assimilar o refutar das semânticas. Ele tentava adestrar seu espírito tragando o mundo. Que seguia rasgando por suas vias até aceitar que este mundo não pode ser absorvido, só assim esvaziava os pulmões das vozes que as palavras geravam por dentro.
E, a essa altura da existência, se alguém pudesse ser ouvido, e, se algo pudesse ser aconselhável, ele diria que um momento de paz pode ser conquistado quando se consegue aceitar a própria humanidade, no mesmo tempo e medida que se deveria acreditar na falta de humanidade em todo o resto. Mas um conselho desses também não cabe.
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