Eduardo Hughes Galeano
03 de Setembro de 1940 - Montevidéu, Uruguai
Morreu em 14 de abril de 2015
Escritor - Poeta - Jornalista
Autor de:
Não nos provoca riso o amor
quando chega ao mais profundo
de sua viagem, ao mais alto de
seu vôo: no mais profundo,
no mais alto, nos arranca
gemidos e suspiros,
vozes de dor, embora seja dor jubilosa,
e pensando bem não há nada de estranho nisso,
porque nascer é uma alegria que dói.
Pequena morte, chamam na França
a culminação do abraço,
que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e
perdendo-nos faz por nos encontrar
e acabando conosco nos principia.
e acabando conosco nos principia.
Pequena morte, dizem;
mas grande, muito grande haverá
mas grande, muito grande haverá
de ser, se ao nos matar nos nasce.
Os Ninguéns
“As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.”
Teologia/2
O deus dos cristãos, Deus da minha infância, não faz amor.
Talvez o único deus que nunca fez amor, entre todos os deuses de todas as religiões da história humana.
Cada vez que penso nisso, sinto pena dele.
E então o perdôo por ter sido meu super pai castigador, chefe de polícia do universo, e penso que afinal Deus também foi meu amigo naqueles velhos tempos, quando eu acreditava Nele e acreditava que Ele acreditava em mim.
Então preparo a orelha,na hora dos rumores mágicos, entre o pôr-do-sol e o nascer subir da noite, e acho que escuto suas melancólicas confidencias
Os Ninguéns
“As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.”
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