TRAVESSEIRO SUSPENSO POR FIOS DE NYLON

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Colcha de Retalhos: um filme muito bem “tecido”

How to Make An American Quilt

Um dos filmes que mais gosto é Colcha de Retalhos (How to Make an American Quilt). Difícil encontrar um filme tão sensível e que retrata tão bem a alma humana, confusa, complexa e nada fixa.
Enquanto elabora sua tese e se prepara para se casar, Finn Dodd (Wynona Ryder), uma jovem mulher, vai morar na casa da sua avó materna (Ellen Burstyn). Ela decide passar esse tempo na casa de sua avó para, assim, poder refletir sobre seus sentimentos. Na casa da avó Finn revive uma experiência já muito conhecida, desde a infância. Lá estão várias amigas da família, que preparam uma elaborada colcha de retalhos como presente de casamento. É tradição por lá que as mulheres teçam colchas de retalho como presente de casamento. E enquanto elas se dedicam a atividade, relembram antigas histórias de relacionamentos amorososos. Neste meio tempo Finn se sente atraída por um desconhecido, criando dúvidas no seu coração que precisam ser esclarecidas.
Tendo as mulheres decidido pela colcha de retalhos como presente de casamento, cada uma, então, se incumbe de bordar seus retalhos para no final juntarem as peças e comporem a colcha. O interessante é que não são retalhos quaisquer, mas quadrados que ilustram a história amorosa de cada uma. A colcha tecida tem como tema “Onde mora o amor?”. As figuras ou desenhos representam a mulher que os compôs. A jovem, provavelmente movida pelo momento conflituoso por que passa, acaba conversando com cada uma delas, onde tem a oportunidade de ouvir relatos vivos sobre essas experiências. Assim, enquanto o trabalho é feito, Finn ouve o relato de paixões e envolvimentos, nem sempre moralmente aprováveis mas repletos de sentimentos, que estas mulheres tiveram. Passamos a conhecer os vários “retalhos” de amor, com a sua beleza, tristeza, decepções e esperanças… Enfim, as versões femininas sobre seus homens e a relação com eles.
How to Make an American Quilt é um filme feminino, onde os homens, claro, são o tema frequente, mas ocupam um papel coadjuvante. A colcha completa, que vai cobrir aquela jovem e seu futuro marido, reúne todas as histórias de amor e representa a feminilidade daquelas mulheres. O filme é um drama romântico sobre o universo feminino, e nos envolve com a vida das costureiras e seus mundos interiores. Cada retalho que compõe a colcha traz uma simbologia. O jardim de rosas amarelas, simbolizando o cenário de um grande amor. O retalho de Sophia Darling é o mesmo do seu vestido que usara no seu primeiro encontro de amor, representando ondas. A esposa traída confecciona em seu retalho os objetos de pintura representando o seu amor, e assim por diante.
O filme é muito bem “tecido”, permitam-me o verbo. É tecido como uma alegoria – a alegoria da colcha de retalhos. No início do filme pode-se observar uma cena que foca o desenrolar de um carretel de linha, fazendo uma comparação entre este procedimento e a vida do ser humano. E o que acontece naqueles diálogos de Finn com aquelas mulheres mais velhas é exatamente isso. Outros símbolos aparecem no filme: a cor vermelha, um poema, os morangos, um corvo… Num ponto clímax do filme um forte vendaval inrompe como uma metáfora das idéias da moça, e do conturbado momento no drama. A cabeça da jovem noiva está confusa principalmente depois da conversa com sua mãe. Finn entra em conflito não sabendo ao certo se realmente quer se casar, pois em toda a sua vida ouviu de sua mãe que o casamento era uma grande bobagem, e que compromissos monogâmicos para toda a vida eram impossíveis de se cumprir. Depois do vendaval tudo ficou mais claro para Finn, e também para as outras mulheres. Colcha de Retalhos é uma alegoria primorosa, rica em detalhes e sutilezas, que você não deve deixar de assistir.

How to Make an American Quilt foi lançado em 1995 nos Estados Unidos. Conta com a excelente direção de Jocelyn Moorhouse, e desempenhos muitos bons de Wynona Ryder, Anne Bancroft, Ellen Burstyn, Kate Nelligan, Alfre Woodard, entre outros. Dedique alguma atenção à excelente trilha sonora organizada por Thomas Newman. Em alguns momentos as músicas escolhidas para o fundo vestem como uma luva; melhor dizendo, encaixam-se na trama como retalhos meticulosamente escolhidos para compor toda a harmonia da colcha das quilteiras.

Escrito por Leandro Avicena
28/07/2010 às 15:30
Publicado em Cinema, Close-up, Mulher
Etiquetado com Jocelyn Moorhouse


A tradição das colchas de patchwork é algo muito bonito na cultura norte-americana. Quando me hospedei em casas norte-americanas me foram oferecidas essas colchas como parte da boa hospitalidade. Conheci uma senhora americana que, por um longo tempo, teceu uma colcha de patchwork utilizando retalhos de roupas marcantes que seus filhos vestiram quando eram crianças. As colchas de patchwork não têm apenas uma função prática (agasalhar), ou decorativa e estética, mas são muito mais uma expressão de arte doméstica ou familiar em que se conta uma história ou se traduz um tema. É como um quadro que cumpre uma função emocional, afetiva. Dentre os amigos que tenho, há uma em especial que sabe tecer o patchwork com grande habilidade, reunindo revistas especializadas norte-americanas, os materiais próprios, as diversas técnicas, etc. O patchwork é uma arte comovente, e como tal exige sensibilidade e esmero. Claro que hoje você pode comprar destas colchas em feiras, ou mesmo industrializadas, mas neste caso o objeto cumpre apenas a sua função prática usual e o seu aspecto decorativo.

A tradução literal de patchwork é "trabalho com retalho". Leio num artigo especializado que o patchwork “e uma técnica que une tecidos com uma infinidade de formatos variados. O patchwork é a parte superior ou topo do trabalho, já o trabalho completo é o acolchoado, formado pelo topo mais a manta acrílica e o tecido fundo, tudo preso por uma técnica conhecida como quilting ou acolchoamento”. A cor é o elemento que mais chama a atenção numa peça de patchwork. O conhecimento da cor é uma boa base para obter ótimos resultados. Saber combinar as cores e os tons e conseguir uma harmonia entre eles, é um grande passo para quem deseja fazer um bom trabalho em patchwork.

Em meados do século XVII, a arte de quiltar chegou às Américas, mais especificamente aos Estados Unidos e Canadá. Trazida pelos colonizadores, era comum ver colchas feitas de linho ou lã, em panos inteiros ou a partir de medalhões centrais e bordas, que permitiam o aproveitamento total de retalhos, já que tecidos eram considerados preciosidade, assim como linhas e agulhas (que eram passadas de mãe para filha). As técnicas eram transmitidas pelas mães e avós para suas descendentes, assim surgiram muitas tradições relacionadas a tecidos, cores e desenhos. Uma tradição de meados de 1800 pedia que a moça fizesse doze colchas antes de poder casar, sendo que a última deveria utilizar os blocos Double Wedding Ring (dois anéis de casamento entrelaçados). No período da Grande Depressão, após a quebra da Bolsa de Valores, isto é, entre 1929 e 1939, as quilteiras aproveitavam todo e qualquer tecido disponível, usando formatos como o Apple Core (miolo de maçã) e os triângulos, que permitiam aproveitamento total dos tecidos.

Escrito por Leandro Avicena
28/07/2010 às 15:30
Publicado em Cinema, Close-up, Mulher
Etiquetado com Jocelyn Moorhouse





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