How to Make An American Quilt
Um dos filmes que mais gosto é Colcha de Retalhos (How to Make an American Quilt).
Difícil encontrar um filme tão sensível e que retrata tão bem a alma humana,
confusa, complexa e nada fixa.
Enquanto elabora sua tese e se prepara para se casar, Finn Dodd (Wynona
Ryder), uma jovem mulher, vai morar na casa da sua avó materna (Ellen Burstyn).
Ela decide passar esse tempo na casa de sua avó para, assim, poder refletir
sobre seus sentimentos. Na casa da avó Finn revive uma experiência já muito
conhecida, desde a infância. Lá estão várias amigas da família, que preparam
uma elaborada colcha de retalhos como presente de casamento. É tradição por lá
que as mulheres teçam colchas de retalho como presente de casamento. E enquanto
elas se dedicam a atividade, relembram antigas histórias de relacionamentos
amorososos. Neste meio tempo Finn se sente atraída por um desconhecido, criando
dúvidas no seu coração que precisam ser esclarecidas.
Tendo as mulheres decidido pela colcha de retalhos como presente de
casamento, cada uma, então, se incumbe de bordar seus retalhos para no final
juntarem as peças e comporem a colcha. O interessante é que não são retalhos
quaisquer, mas quadrados que ilustram a história amorosa de cada uma. A colcha
tecida tem como tema “Onde mora o amor?”. As figuras ou desenhos representam a
mulher que os compôs. A jovem, provavelmente movida pelo momento conflituoso
por que passa, acaba conversando com cada uma delas, onde tem a oportunidade de
ouvir relatos vivos sobre essas experiências. Assim, enquanto o trabalho é
feito, Finn ouve o relato de paixões e envolvimentos, nem sempre moralmente
aprováveis mas repletos de sentimentos, que estas mulheres tiveram. Passamos a
conhecer os vários “retalhos” de amor, com a sua beleza, tristeza, decepções e
esperanças… Enfim, as versões femininas sobre seus homens e a relação com eles.
How to Make an American Quilt é um filme feminino, onde os homens, claro, são o tema frequente, mas
ocupam um papel coadjuvante. A colcha completa, que vai cobrir aquela jovem e
seu futuro marido, reúne todas as histórias de amor e representa a feminilidade
daquelas mulheres. O filme é um drama romântico sobre o universo feminino, e
nos envolve com a vida das costureiras e seus mundos interiores. Cada retalho
que compõe a colcha traz uma simbologia. O jardim de rosas amarelas,
simbolizando o cenário de um grande amor. O retalho de Sophia Darling é o mesmo
do seu vestido que usara no seu primeiro encontro de amor, representando ondas.
A esposa traída confecciona em seu retalho os objetos de pintura representando
o seu amor, e assim por diante.
O filme é muito bem “tecido”, permitam-me o verbo. É tecido como uma
alegoria – a alegoria da colcha de retalhos. No início do filme pode-se
observar uma cena que foca o desenrolar de um carretel de linha, fazendo uma
comparação entre este procedimento e a vida do ser humano. E o que acontece naqueles
diálogos de Finn com aquelas mulheres mais velhas é exatamente isso. Outros
símbolos aparecem no filme: a cor vermelha, um poema, os morangos, um corvo…
Num ponto clímax do filme um forte vendaval inrompe como uma metáfora das
idéias da moça, e do conturbado momento no drama. A cabeça da jovem noiva está
confusa principalmente depois da conversa com sua mãe. Finn entra em conflito
não sabendo ao certo se realmente quer se casar, pois em toda a sua vida ouviu
de sua mãe que o casamento era uma grande bobagem, e que compromissos
monogâmicos para toda a vida eram impossíveis de se cumprir. Depois do vendaval
tudo ficou mais claro para Finn, e também para as outras mulheres. Colcha de Retalhos é uma alegoria primorosa, rica em
detalhes e sutilezas, que você não deve deixar de assistir.
How to Make an American Quilt foi lançado em 1995 nos Estados Unidos. Conta com a excelente direção de
Jocelyn Moorhouse, e desempenhos muitos bons de Wynona Ryder, Anne Bancroft,
Ellen Burstyn, Kate Nelligan, Alfre Woodard, entre outros. Dedique alguma
atenção à excelente trilha sonora organizada por Thomas Newman. Em alguns
momentos as músicas escolhidas para o fundo vestem como uma luva; melhor
dizendo, encaixam-se na trama como retalhos meticulosamente escolhidos para compor
toda a harmonia da colcha das quilteiras.
Escrito por Leandro Avicena
28/07/2010 às 15:30
Etiquetado com Jocelyn Moorhouse
A tradição das colchas de patchwork é algo muito bonito na cultura norte-americana. Quando me hospedei em
casas norte-americanas me foram oferecidas essas colchas como parte da boa
hospitalidade. Conheci uma senhora americana que, por um longo tempo, teceu uma
colcha de patchwork utilizando retalhos de roupas marcantes que seus filhos vestiram quando
eram crianças. As colchas de patchwork não têm apenas uma função prática (agasalhar), ou decorativa e estética,
mas são muito mais uma expressão de arte doméstica ou familiar em que se conta
uma história ou se traduz um tema. É como um quadro que cumpre uma função
emocional, afetiva. Dentre os amigos que tenho, há uma em especial que sabe
tecer o patchwork com grande habilidade, reunindo revistas especializadas
norte-americanas, os materiais próprios, as diversas técnicas, etc. O patchwork é uma arte comovente, e como tal
exige sensibilidade e esmero. Claro que hoje você pode comprar destas colchas
em feiras, ou mesmo industrializadas, mas neste caso o objeto cumpre apenas a
sua função prática usual e o seu aspecto decorativo.
A tradução literal de patchwork é "trabalho com retalho". Leio
num artigo especializado que o patchwork “e uma técnica que une tecidos com uma
infinidade de formatos variados. O patchwork é a parte superior ou topo do
trabalho, já o trabalho completo é o acolchoado, formado pelo topo mais a manta
acrílica e o tecido fundo, tudo preso por uma técnica conhecida como quilting ou acolchoamento”.
A cor é o elemento que mais chama a atenção numa peça de patchwork. O
conhecimento da cor é uma boa base para obter ótimos resultados. Saber combinar
as cores e os tons e conseguir uma harmonia entre eles, é um grande passo para
quem deseja fazer um bom trabalho em patchwork.
Em meados do século XVII, a arte de quiltar chegou às Américas, mais
especificamente aos Estados Unidos e Canadá. Trazida pelos colonizadores, era
comum ver colchas feitas de linho ou lã, em panos inteiros ou a partir de
medalhões centrais e bordas, que permitiam o aproveitamento total de retalhos,
já que tecidos eram considerados preciosidade, assim como linhas e agulhas (que
eram passadas de mãe para filha). As técnicas eram transmitidas pelas mães e
avós para suas descendentes, assim surgiram muitas tradições relacionadas a
tecidos, cores e desenhos. Uma tradição de meados de 1800 pedia que a moça
fizesse doze colchas antes de poder casar, sendo que a última deveria utilizar
os blocos Double Wedding Ring (dois anéis de casamento entrelaçados). No período da Grande Depressão,
após a quebra da Bolsa de Valores, isto é, entre 1929 e 1939, as quilteiras
aproveitavam todo e qualquer tecido disponível, usando formatos como o Apple Core (miolo de maçã) e os triângulos, que permitiam aproveitamento total dos
tecidos.
Escrito por Leandro Avicena
28/07/2010 às 15:30
Etiquetado com Jocelyn Moorhouse
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