NÃO ESQUECER O PASSADO PARA COMPREENDER
O PRESENTE
LANÇAMENTO
DA REVISTA TIE – MULHERES:
O DIA DA MULHER NASCEU DAS MULHERES SOCIALISTAS -
O que elas queriam? O que nós queremos?
Abolir a propriedade privada? Com certeza!! Abolir a propriedade privada como base da sociedade que estrutura desigualdades, cria hierarquias de poder e mantém uma sistemática guerra contra a natureza e seus seres. O 8 de março é um dia de luta contra a propriedade privada... também no âmbito das relações sociais, do casamento e da sexualidade. Cama, mesa e banho. É isto mesmo... queremos abolir os poderes de latifundiários, empresários, políticos, patrões, maridos e senhores. Horrorizai-vos! O 8 de março é um dia anti-burguês, contra as ridículas homenagens burguesas que tentam continuar emburrecendo as mulheres com tradição, família & propriedade ou flores, bombons & um laço de fita, ou mitos do amor romântico, da beleza e da maternidade. Horrorizai-vos! é contra tudo isso que lutamos, articulando classe-gênero e etnia na construção de um eco-socialismo feminista.
E a burguesia grita!! "Vocês mulheres, feministas, comunistas querem introduzir a comunidade das mulheres!!" É verdade! Já vivemos assim! Já somos comunidade e construímos na luta nossa unidade entre mulheres do campo e da cidade! Não aceitamos ser reduzidas a instrumento de produção e reprodução do capital, da família e do poder masculino. Nós arrancamos nós mesmas das formas violentas e históricas que querem nos manter subordinadas, minorizadas e desiguais.
Neste exato momento centenas de mulheres camponesas do Rio Grande do Sul estão debaixo da lona preta, debaixo do eucaliptal, num dos 200 mil hectares das multi-imperialistas do agronegócio florestal - Aracruz, Votorantin, Stora Enso, Boise... - denunciando que o deserto verde está impedindo a reforma agrária e inviabilizando a agricultura camponesa.
Neste exato momento as mulheres da Via Campesina e suas crianças morrem de pena das árvores enfileiradinhas, da terra ocupada com nada, do alimento que não brota do chão, da água que não tem mais tempo de molhar. Observadas pela Brigada Militar - seus cavalos e cachorros - as mulheres abençoam o mundo e dormem entre o medo e a solidariedade. Toda a campina se ilumina perdoando as árvores de mentira em sua feiúra. E no escuro, elas se fazem Via... láctea, campesina, revolucionária e planejam hortas, pomares e cozinhas de um plano camponês para o Brasil.
Neste exato momento mulheres fortes, atentas e decididas fazem a segurança do acampamento nas terras da Boise. Quem quiser doçura, carinho, afeto e graciosidade... melhor que escreva sobre confeitarias ou almofadas. O grande amor da vida delas vai misturado com a capacidade de saber endurecer... perdendo a paciência quando precisar.
Elas perdoam as mulheres burguesas e suas mentirinhas, as feministas interrompidas e suas teologias, mas não toleram mais discursos gerais sobre mulheres inexistentes, nem elogios da diferença que não fazem diferença alguma. É por dentro da luta de classes que a luta das mulheres trabalhadoras acontece. É por dentro das mulheres que a luta de classes avança.
Horrorizai-vos! Senhores teólogos. O 8 de março chegou anunciando também- contra toda a esperança! - que os dias do deus-pai estão contados e que há de chegar o dia - e já veio - em que se fará teologia com o coração ardente, contra toda violência e propriedade.
O DIA DA MULHER NASCEU DAS MULHERES SOCIALISTAS -
PÃO E PAZ
07
DE MARÇO DE 2006
Sindicato
dos Metalúrgicos de Campinas - SP
RESENHA da Revista – por Magali Possan
1-
O artigo se insere em uma
antiga discussão, polêmica e controversa, sobre quando, onde, como e porquê,
nasceu o “Dia Internacional da Mulher”.
2-
O artigo persegue uma tese,
uma idéia principal que é “ o dia da mulher nasceu da luta da mulheres
socialistas”.
3-
Essa tese bate de frente com
a tão propagada história, que este artigo chama de “o Mito da greve de 1857”,
onde, conta-se, que 129 mulheres, operárias, teriam sido queimadas vivas
durante uma greve, em Nova Iorque – EUA, em 1857.
4-
Esta é a versão que ficou
consolidada como mito, como “verdade”, mas que nunca foi provada como um “fato
histórico – político”, que aconteceu de fato.
5-
Por isso, é que essa versão é
tida como “mito”. O que é um mito? É uma versão fictícia, criada, inventada de
algum acontecimento ou pessoa (temos vários exemplos: novelas de época, filmes,
as minisséries)
6-
O artigo lembra que as
discussões sobre “as origens do mito das greves de 1857” são confusas e
sobrepõe e mistura diferentes momentos das lutas operárias no início do séc.
XX, nas greves de 1910 e 1911 nos EUA e a de 1917 na Rússia (a greve das
tecelãs e tecelões / estopim da Revolução Russa).
7-
Confusão esta que se explica
por motivos históricos, mas também políticos e ideológicos.
8-
O artigo traça uma “linha do
tempo” (tempo/espaço/lugar) e isso facilita a nós leitores, pois salta aos
nossos olhos, elementos históricos, culturais, sociais, permitindo diferentes
leituras.
9-
Assim enxergo essa linha do
tempo:
10-
A partir 1890 (após a
fundação da Internacional Comunista) já se fala, se escreve e se organiza a
luta das mulheres visando integrá-las às lutas socialistas; também na tradição
anarquista berço do movimento fala-se em “igualdade entre homens e mulheres”.
11-
Podemos observar por esta
linha do tempo, que os anos que vão dos finais do século XIX (finais de 1800) e
início do século XX (até a década de 1910, 1920) representam um período onde há
um forte movimento socialista mundial, solo fértil para o nascimento das idéias
de “libertação das mulheres”.
12-
É dentro do ambiente das lutas
operárias, das discussões teóricas e políticas no campo socialista, que vai
florescendo aos poucos a luta pela participação política das mulheres.
13-
Ambiente político: 1890 é
fundada a Internacional Comunista; acontecem Congressos Socialistas em
diferentes países, ocorrem várias greves e movimentos de operárias
(costureiras, p.ex.); são organizados Conferências Internacionais de Mulheres;
são organizadas “comemorações” ao dia da mulher em diferentes países (França,
EUA, Rússia...); Livros são escritos sobre a Mulher e o Socialismo; há luta
pelo direito ao voto etc.
14-
Não há dúvidas de que esse
processo de inserção e participação das mulheres nas instâncias partidárias,
sindicais e políticas – predominantemente ocupadas por homens – foi regada de
conflitos e contradições.
15-
Até 1907 (antes da 1a.
Conferência Internacional das Mulheres Socialistas) tanto a Internacional
Comunista quanto os Anarquistas eram contra o voto feminino.
16-
Ainda a partir dessa linha do
tempo, percebe-se que há um vazio histórico, e as manifestações comemorativas
do dia da mulher nos finais de 1920 até 1960, caem no esquecimento.
17-
Neste farto período de cerca
de 40 anos, a memória histórica da luta socialista das mulheres e seu caráter
político são esquecidas e soterradas pelas “avalanches históricas”: as 2 guerras mundiais; o stalinismo
burocrático na União Soviética; o avanço do Capitalismo Americano e o declínio
da Social Democracia Européia .
18-
Apenas na década de 1960 a ideia
do Dia Internacional da Mulher é retomada, novamente, sem a qualificação
socialista ou seja,
19-
É retomado o já estabelecido
mito das mulheres que morreram queimadas nas greves de 1857, tão solidificado,
sem nenhum questionamento.
20-
Nas décadas de 1960 e 1970 o
mundo vive uma “convulsão política-ideológica”.
21-
O mundo divido em 2 blocos
tem os EUA, grande representante do Capitalismo, rumo ao Império Neoliberal; a
União Soviética começando sua decadência.
22-
Um Clima político, ideológico
e cultural marcado por fatos como a Revolução Cubana – 1959; a Guerra do Vietnã
de 1964 / 74; o Concílio Vaticano II de 63/64 e o nascimento da Teologia da
Libertação; os movimentos culturais dos jovens e dos estudantes (Beatles; os
hippies, Woodestock), que pregavam a paz, o amor, a revolução social e sexual; e as guerrilhas contra as ditaduras Latino
Americanas.
23-
Nessa efervescência
ideológica, política e cultural, consolida-se no mundo o mito do dia das
Mulheres suplantados os fatos políticos que lhe deram origem.
24-
Em 1960 /70 a luta de
auto-organização das mulheres é retomada pelos chamados Movimentos Feministas,
críticos ferrenhos da prática da maioria dos partidos e sindicatos, visavam se
organizar de forma autônoma.
25-
É nesse período da história
que a cor roxa é adotada, deixando para trás o vermelho das bandeiras das
mulheres socialista. Hoje tanto os movimentos de Mulheres socialistas ou não,
adotam essa cor.
26-
O artigo nos remete a algumas
reflexões:
27-
Ao longo da história, o dia
internacional da mulher foi adquirindo um significado histórico mitificado,
confuso e por vezes destorcido, que desqualifica e despolitiza a sua origem de
luta socialista, marcados no entanto, por contradições e conflitos no interior
do próprio movimento socialista;
28-
Trata-se portanto, hoje, não
apenas de derrubar esse mito secular, mas sim trazer a discussão novos
elementos que nos ajudem a retomar e a
compreender melhor: 1- o sentido original do dia internacional da mulher; 2-e
também a construção histórica e a memória de seus significados.
29-
E pra finalizar, fazer uma
revista com esta temática sobre o dia das mulheres e estar discutindo
coletivamente é fundamental na construção do intercambio entre homens e
mulheres, trabalhadoras/es, é fundamental para a discussão e prática da
diversidade e do pluralismo, e na criação de espaços de debates que possibilitem
a todos nós refletirmos sobre nós
próprios, sobre nossas relações, sobre temas como por exemplo as questões de
gênero, sexismo, diferença, raça, juventude,
saúde, cultura, relativas as nossas vidas e ao humano.
30-
Estar discutindo
coletivamente hoje, garante a troca de informações, garante a aprendizagem com
e através das experiências do passado para podermos construir um conhecimento
próprio para nossas lutas atuais.
31-
Afinal, cada um de nós mulheres e homens, temos a nossa ação no
mundo, e deixamos a nossa marca, na memória da história.
No dia 8 de março: luta e indignação
Nancy Cardoso - Pastora metodista, da Coordenação nacional da Comissao pastoral da Terra (CPT), e colaboradora do Cebi (Centro de Estudos Bíblicos).
Em plena Guerra Mundial, em 1917, na Rússia, as mulheres socialistas realizaram seu Dia da Mulher no dia 23 de fevereiro, pelo calendário russo. No calendário ocidental, a data correspondia ao dia 8 de março. Neste dia, em Petrogrado, um grande número de mulheres operárias, na maioria tecelãs e costureiras, contrariando a posição do Partido, que achava que aquele não era o momento oportuno para qualquer greve, saíram às ruas em manifestação; foi o estopim do começo da primeira fase da Revolução Russa, conhecida depois como a Revolução de Fevereiro.
O que elas queriam? O que nós queremos?
Abolir a propriedade privada? Com certeza!! Abolir a propriedade privada como base da sociedade que estrutura desigualdades, cria hierarquias de poder e mantém uma sistemática guerra contra a natureza e seus seres. O 8 de março é um dia de luta contra a propriedade privada... também no âmbito das relações sociais, do casamento e da sexualidade. Cama, mesa e banho. É isto mesmo... queremos abolir os poderes de latifundiários, empresários, políticos, patrões, maridos e senhores. Horrorizai-vos! O 8 de março é um dia anti-burguês, contra as ridículas homenagens burguesas que tentam continuar emburrecendo as mulheres com tradição, família & propriedade ou flores, bombons & um laço de fita, ou mitos do amor romântico, da beleza e da maternidade. Horrorizai-vos! é contra tudo isso que lutamos, articulando classe-gênero e etnia na construção de um eco-socialismo feminista.
E a burguesia grita!! "Vocês mulheres, feministas, comunistas querem introduzir a comunidade das mulheres!!" É verdade! Já vivemos assim! Já somos comunidade e construímos na luta nossa unidade entre mulheres do campo e da cidade! Não aceitamos ser reduzidas a instrumento de produção e reprodução do capital, da família e do poder masculino. Nós arrancamos nós mesmas das formas violentas e históricas que querem nos manter subordinadas, minorizadas e desiguais.
Neste exato momento centenas de mulheres camponesas do Rio Grande do Sul estão debaixo da lona preta, debaixo do eucaliptal, num dos 200 mil hectares das multi-imperialistas do agronegócio florestal - Aracruz, Votorantin, Stora Enso, Boise... - denunciando que o deserto verde está impedindo a reforma agrária e inviabilizando a agricultura camponesa.
Neste exato momento as mulheres da Via Campesina e suas crianças morrem de pena das árvores enfileiradinhas, da terra ocupada com nada, do alimento que não brota do chão, da água que não tem mais tempo de molhar. Observadas pela Brigada Militar - seus cavalos e cachorros - as mulheres abençoam o mundo e dormem entre o medo e a solidariedade. Toda a campina se ilumina perdoando as árvores de mentira em sua feiúra. E no escuro, elas se fazem Via... láctea, campesina, revolucionária e planejam hortas, pomares e cozinhas de um plano camponês para o Brasil.
Neste exato momento mulheres fortes, atentas e decididas fazem a segurança do acampamento nas terras da Boise. Quem quiser doçura, carinho, afeto e graciosidade... melhor que escreva sobre confeitarias ou almofadas. O grande amor da vida delas vai misturado com a capacidade de saber endurecer... perdendo a paciência quando precisar.
Elas perdoam as mulheres burguesas e suas mentirinhas, as feministas interrompidas e suas teologias, mas não toleram mais discursos gerais sobre mulheres inexistentes, nem elogios da diferença que não fazem diferença alguma. É por dentro da luta de classes que a luta das mulheres trabalhadoras acontece. É por dentro das mulheres que a luta de classes avança.
Horrorizai-vos! Senhores teólogos. O 8 de março chegou anunciando também- contra toda a esperança! - que os dias do deus-pai estão contados e que há de chegar o dia - e já veio - em que se fará teologia com o coração ardente, contra toda violência e propriedade.
Importante resgatar os ideais libertários. Ro.
ResponderExcluirImportante resgatar a história, pra gente entender o presente. Abraço
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