18/05/2011
Longa brasileiro aborda as influências das relações de trabalho no convívio familiar
O filme “Trabalhar Cansa” foi exibido no Festival de Cannes deste ano. Em entrevista, os diretores Juliana Rojas e Marco Dutra contam que o objetivo da película é mostrar “como as relações de trabalho afetam todas as outras relações pessoais e familiares”
Por Paula Salati
“Trabalhar Cansa” é o título do único longa-metragem brasileiro selecionado para o Festival de Cannes deste ano, que está em sua 64ª edição. Dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra, o filme já teve exibição no evento que iniciou dia 11 de maio e segue até o dia 22, quando haverá as premiações.
Os diretores Juliana e Marco sempre trabalharam com temas relacionados ao universo familiar. Juliana conta que, desde o início, a idéia era abordar a forma “como as relações de trabalho afetam todas as outras relações pessoais e familiares” e “o tipo de competição e dificuldade enfrentada por quem trabalha nas metrópoles”.
O filme, vivenciado na cidade de São Paulo, conta a história da dona-de-casa Helena (interpretada pela atriz Helena Albergaria do grupo teatral Companhia do Latão) que resolve realizar um antigo sonho de ter seu próprio negócio, abrindo um mini-mercado. Para isso, ela contrata a empregada Paula para tomar conta de sua filha, Vanessa, de oito anos. Ao mesmo tempo, seu marido Otávio perde o emprego de gerente em uma grande corporação na qual trabalhou por quase 10 anos.
De dona-de-casa, Helena se transforma em patroa. Otávio, que sempre esteve acostumado a ser chefe de família, passa a depender financeiramente da esposa. A partir daí, a família desenvolve uma série de conflitos por conta das inversões nas relações de trabalho e pessoais, sob um pano de fundo de suspense e horror.
O clima de horror também é um estilo dos autores: “Quando começamos a fazer nossos curtas, pensávamos em fazer filmes de horror. Aos poucos fomos vendo que muita gente não via nossos filmes como filmes de horror porque eles não usavam todos os recursos do gênero, todas as convenções. Nos nossos filmes, nós tentamos entender o que a história tem de assustadora em si mesma e explorar esse aspecto - e não apenas aplicar no filme as convenções do gênero. O resultado acaba sendo um gênero híbrido, difícil de identificar plenamente”, explica Juliana.
O título “Trabalhar Cansa” vem do poema Lavorare Stanca, de Cesare Pavese, que não estabelece uma relação direta com o filme, mas cujo tom melancólico se aproxima da história. Juliana e Marco são produtores também dos curtas As Sombras, O Lençol Branco e Um Ramo, sendo que esses dois últimos também foram exibidos no Festival de Cannes.
Os diretores brasileiros tem mais projetos pela frente, um deles se chama “Cidade;Campo”, filme que contará duas histórias paralelas que se passam no ambiente urbano e rural.
Em Cannes, o filme foi eleito para competir aos prêmios da mostra Um Certo Olhar (Un Certain Regard) e também pelo Caméra d’Or, reservado aos diretores estreantes em longa. O resultado deve sair ao final do festival, no dia 22.
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O filme, vivenciado na cidade de São Paulo, conta a história da dona-de-casa Helena (interpretada pela atriz Helena Albergaria do grupo teatral Companhia do Latão) que resolve realizar um antigo sonho de ter seu próprio negócio, abrindo um mini-mercado. Para isso, ela contrata a empregada Paula para tomar conta de sua filha, Vanessa, de oito anos. Ao mesmo tempo, seu marido Otávio perde o emprego de gerente em uma grande corporação na qual trabalhou por quase 10 anos.
De dona-de-casa, Helena se transforma em patroa. Otávio, que sempre esteve acostumado a ser chefe de família, passa a depender financeiramente da esposa. A partir daí, a família desenvolve uma série de conflitos por conta das inversões nas relações de trabalho e pessoais, sob um pano de fundo de suspense e horror.
O clima de horror também é um estilo dos autores: “Quando começamos a fazer nossos curtas, pensávamos em fazer filmes de horror. Aos poucos fomos vendo que muita gente não via nossos filmes como filmes de horror porque eles não usavam todos os recursos do gênero, todas as convenções. Nos nossos filmes, nós tentamos entender o que a história tem de assustadora em si mesma e explorar esse aspecto - e não apenas aplicar no filme as convenções do gênero. O resultado acaba sendo um gênero híbrido, difícil de identificar plenamente”, explica Juliana.
O título “Trabalhar Cansa” vem do poema Lavorare Stanca, de Cesare Pavese, que não estabelece uma relação direta com o filme, mas cujo tom melancólico se aproxima da história. Juliana e Marco são produtores também dos curtas As Sombras, O Lençol Branco e Um Ramo, sendo que esses dois últimos também foram exibidos no Festival de Cannes.
Os diretores brasileiros tem mais projetos pela frente, um deles se chama “Cidade;Campo”, filme que contará duas histórias paralelas que se passam no ambiente urbano e rural.
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CONFIRA O TRAILER DE TRABALHAR CANSA:
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CLASSIFICAÇÃO: Para Pensar, Drama, Brasil - 30/09/2011
DIREÇÃO e ROTEIRO: Marco Dutra e Juliana Rojas
ELENCO: Helena Albergaria, Marat Decartes, Naloana Lima, Gilda Nomacce, Marina Flores, Lilian Blanc
Brasil, 2011 (99 min)
Será que Helena faz o papel dela mesma? Fiquei com a impressão que sim, não só por causa do mesmo nome, mas pela simplicidade do personagem enquanto representação da classe média. Helena (Helena Albergaria na vida real) faz o papel dessa dona de casa que se cansa, não só do trabalho que dá o novo mercadinho, mas da empreitada da vida.
Trabalhar Cansa é interessante por isso – junta elementos reais e surreais para tratar da dura luta do dia-a-dia. Os reais são representados pela família de Helena. Na pele de uma dona de casa, a gente percebe o seu envolvimento com nova ideia de ajudar nas despesas da casa abrindo um pequeno mercado, seu entusiasmo com o novo ritmo de vida, a dura realidade de ter de lidar com os funcionários, de ter de abrir mão do tempo com a família, de não ter retorno financeiro, até cair na exaustão total e completa. Dentro desse panorama, que vai crescendo no descontrole e na ansiedade, seu marido Otávio (Marat Decartes) perde o emprego. Mais uma dificuldade para lidar com a frustração, o nervosismo, a falta de dinheiro e principalmente a falta de perspectiva num mercado de trabalho cruel e implacável para quem já tem mais de 40 anos e precisa se recolocar.
Já os elementos surreais são introduzidos no decorrer da narrativa, apontando a falta de controle que temos das coisas práticas e a impossibilidade de compreender tudo. Alguns mistérios cercam a vida de Helena e o trabalho de tocar a vida em frente vai sugando todas as energias. Algumas metáforas são bem colocadas, principalmente quando sair do eixo emocional significa colocar a sanidade, a estabilidade, a razão a perder.
Para completar esse quadro os diretores Marco Dutra e Juliana Rojas inserem a figura da empregada doméstica, numa crítica ao comportamento da classe média, às mazelas do emprego informal e à desigualdade social. Trabalhar esse dinâmica também cansa do lado de cá da tela e me pareceu que era essa a intenção dos diretores. Talvez tenha sido esse o argumento para selecionar o filme para ser exibido na categoria Um Certo Olhar, em Cannes, este ano. Trabalhar Cansatem um outro olhar a partir de uma tema conhecido nosso de cada dia. Mesmo que esse olhar seja o do estranhamento diante do cheiro ruim, do esgoto transbordando, das paredes úmidas, dos latidos dos cachorros. Um olhar cansado… Mas alguém por acaso disse que seria fácil?
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